sábado, 8 de dezembro de 2012

'Isoladas', famílias judias da PB buscam reconhecimento

08/12/2012 - 04h30
'Isoladas', famílias judias da PB buscam reconhecimento

CLARA ROMAN
DE SÃO PAULO

Elas seguem a torá, o livro sagrado dos judeus, mas 35 famílias da Paraíba ainda buscam reconhecimento de autoridades religiosas em Israel. Até agora sem sucesso.

Antepassados seguiam tradição, dizem integrantes judeus na PB

O problema, segundo a CIP (Congregação Israelita Paulista), é que, para que um não judeu ou descendente distante faça parte da religião, é necessária uma comunidade preexistente para inseri-lo --o que não existe em cidades como João Pessoa e Campina Grande (a 132 km da capital).

Hoje, apenas moradores de São Paulo, Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte podem se converter, diz a congregação.

Apesar de praticarem a religião segundo os preceitos da torá, as famílias lançam mão de "improvisos" para respeitar os mandamentos, já que nem sempre encontram na Paraíba o que precisam.

Na falta de um rabino, Hugo Borges, membro do grupo, realiza as cerimônias. A sinagoga, onde ocorrem os cultos, foi improvisada na sala de sua casa.

Às sextas-feiras, eles se reúnem para celebrar o "cabalat shabat", que comemora a chegada do sábado, dia sagrado para o judaísmo.

Ao pesquisar as origens de sua família, Borges, 31, encontrou um antepassado judeu, convertido forçadamente ao catolicismo durante a inquisição na Península Ibérica.

Conhecidos como "b'nei anussim", em hebraico, ou judeus ocultos, essas pessoas mantiveram a religião original em segredo.

Borges sustenta que é descendente desses judeus.

"É uma história de 500 anos atrás, muito escondida, e é muito difícil ter uma continuidade completa", afirma o rabino Ruben Sternschein, da CIP.

Um dos principais problemas dessa falta de reconhecimento é o casamento.

Ao mesmo tempo que os "b'nei anussim" não querem se casar com não judeus, também não conseguem casar com judeus tradicionais, já que não são reconhecidos como tais. Isso estimula casamentos internos no grupo.

Para o reconhecimento, eles reivindicam uma cerimônia de retorno à religião --e não de conversão.

Segundo Sternschein, a diferença é apenas no ritual final. Mas o processo, que envolve curso de um ano ou mais e passagem por um tribunal judaico, é o mesmo e exige proximidade territorial com uma comunidade preexistente.

"Uma pessoa que tem um interesse existencial tão forte vai viver entre judeus. Se não tem esse interesse, tudo bem. Não vai viver como judeu", afirma o rabino.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1198107-isoladas-familias-judias-da-pb-buscam-reconhecimento.shtml

08/12/2012 - 04h30
Antepassados seguiam tradição, dizem integrantes judeus na PB
CLARA ROMAN
DE SÃO PAULO
Aos 13 anos, Luciano Canuto, 38, decidiu que queria ser judeu. "Uma vontade que apareceu sem explicação, porque na minha cidade não conhecia nenhum." Na época, morava em Campina Grande e sua família era católica.

'Isoladas', famílias judias da PB buscam reconhecimento

Hoje, ele é membro do grupo que se reúne toda semana na casa de Hugo Borges para celebrar a religião. Formado em medicina, é ele quem faz cirurgias de circuncisão, símbolo da conversão, em bebês e adultos que desejam entrar na religião em seu Estado.

Ele próprio passou pela cirurgia aos 16 anos. Mais tarde, descobriu que sua família mantinha tradições alheias ao catolicismo. Sua avó contava que, quando criança, às sextas, a casa era toda fechada, e os adultos rezavam em uma língua esquisita --"nem português, nem latim".

No judaísmo, a cerimônia mais importante da semana, o cabalat shabat, é celebrada na noite da sexta.

Tempos depois, visitou um tio-avô no Rio Grande do Norte e lá encontrou um oratório, relíquia da família.

Para sua surpresa, no objeto havia sido talhado um "shin", letra do alfabeto hebraico. "A minha bisavó, trisavó e assim por diante casaram dentro desse oratório. Nenhuma delas casou na igreja."

Borges também identificou hábitos em sua família, no sertão nordestino, que remontariam a esse passado. Um deles é enterrar os mortos em caixões de madeira vazada.

Segundo ele, isso remete ao ritual judaico de enterrar corpos em contato direto com a terra, como é feito ainda hoje em alguns lugares de Israel.

A endogamia (casamentos entre parentes para conservar a linhagem) foi detectada oito vezes no levantamento genealógico de 11 gerações que fez de sua família. Borges casou-se com uma "b'nei anussim" (descendente distante de judeus ibéricos). E quer que sua filha de dez anos dê continuidade a essa tradição.

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